quinta-feira, 6 de agosto de 2009

JUÇA E ANINHA


Juça era o macaquinho favorito de Aninha.

Aninha só comia, dormia e passeava segurando o Juça debaixo do braço.

Juça era marronzinho, coberto de pêlos macios, que Aninha penteava, penteava, até ficarem bem lisinhos.

Não importava quantos brinquedos Aninha ganhasse, mais bonitos, mais modernos, diferentes, bonecas, casinha, panelinha, mesinha e cadeirinha, que o Juça continuava sendo o brinquedo preferido de Aninha.

Juça era tão querido, tão querido, que Aninha espremia e esfregava a cara do macaquinho na dela, tanto, tanto, que o Juça ficou com a cara gasta.

Juça ficou tão esfregadinho, que a babá Dietty teve de costurar outra cara pro Juça.

E Aninha continuou brincando e carregando o Juça pra todo lado.

Um dia, Aninha quis levar o Juça na primeira vez que foi à escola e lá foi o Juça agarrado com a Aninha.

Na escola, acharam o Juça muito bonitinho, mas ele não podia ficar: sabe como é, as outras crianças não haviam trazido brinquedos de casa, então o Juça não podia ficar ali.

A professora entregou o Juça pra mamãe da Aninha e começou a conversar sobre outras coisas, mostrando os trabalhinhos das crianças da escola e tudo isso e patati-patatá.

Quando Aninha acabou de ver tudo, disse:

– É tudo muito bom. Gostei muito de ver todas essas coisas. Acho que já podemos ir embora.

– Não, disse a professora. Vamos ver mais algumas outras coisas.

E foi distraindo a Aninha, até que ela olhou pra trás e descobriu que a mãe dela tinha ido embora com o Juça.

– Cadê minha mãe? – perguntou Aninha.

– Mamãe já volta. Vamos sentar perto de uma coleguinha?

Aninha sentou-se ao lado de uma menininha de cabelo preto e liso e de grandes olhos azuis, que já sabia fazer os trabalhinhos da escola.

– Vamos bordar cartolina! – disse a menininha e mostrou como se enfiava a lãzinha na agulha e como se espetava a cartolina, passando a lãzinha de lá pra cá.

– É fácil, disse a menininha. Você consegue fazer.

Aninha começou a bordar junto com a nova amiguinha e o dia foi passando.

Mas quando o sol já ia caindo e Aninha percebeu que estava ficando tarde e que a mãe dela não voltava logo como tinham prometido, Aninha começou a ficar preocupada.

Será que minha mãe não volta?, pensou. Acho que ela não volta mais. Acho que ela não volta nunca mais! Mamãe me esqueceu aqui! E começou a chorar:

– Uáááá!

A professora correu pra ver porque Aninha estava chorando.

– Que foi que aconteceu, Aninha?

Aninha que estava muito assustada e não queria dizer por que estava chorando, respondeu:

– Perdi minha agulha! Uáááá!

Arrumaram outra agulha para Aninha, que continuou bordando, até acabar o trabalhinho.

Depois, Aninha voltou pra casa. Afinal, a mãe não tinha se esquecido dela, apenas esqueceu de dizer que aquilo não era apenas uma visita, mas um lugar onde Aninha iria passar as tardes dela dali pra frente.

Juça estava em casa esperando Aninha voltar.

– Puxa, Juça, pensei que nunca mais iria voltar pra casa. Ainda bem que estou de volta. E você, mamãe cuidou direitinho de você?

Aninha foi dormir naquele dia grudada com o Juça. O amiguinho não podia ir pra escola com ela, mas iria ficar em casa esperando todo dia ela voltar.

Aninha entendeu que estava crescendo e tudo aquilo, escola, professora, coleguinhas, fazia parte de outro mundo, fora da casa de Aninha.

E que o mundo tinha um lado de fora e um lado de dentro.

Dentro estava o Juça e fora, todo o resto que Aninha começava a descobrir. Aninha iria crescer, estudar, aprender novas coisas e tudo o Juça iria ficar sabendo, quando Aninha voltasse pra casa.

Aninha beijou o Juça e deitou-se abraçadinha com ele:

– Boa noite, Juça, amanhã tem outro dia de escola! Durma bem!

Aninha dormiu profundamente. Afinal, aquele tinha sido um dia muito diferente!

Thereza Christina Rocque da Motta – 1996

Baseado em fatos reais.

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